O exército americano cunhou o acrônimo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) para ilustrar a realidade do mundo globalizado, conectado e instável em que vivemos e operamos.

Compartilho com vocês algumas dessas lições para contribuir com o importante papel de líderes na crise do Coronavírus.

Nas observações do General George W. Casey, Jr., do exército americano, o contexto VUCA impediu a maioria dos líderes de entender, comunicar e agir.

Os comportamentos observados foram os seguintes:

1. Alguns ficaram tão impactados pela volatilidade e mudanças constantes que pararam de planejar e passaram a reagir aos eventos.
2. Outro grupo ficou tão intimidado pela incerteza e ambiguidade que deixaram de agir por medo de fracassar.
3. Um terceiro grupo quis se aprofundar tão intensamente na realidade VUCA, tentaram fazer tudo e perderam o foco.
4. Apenas alguns líderes foram capazes de lutar através de toda a complexidade e incerteza, conseguiram criar oportunidades e encontraram soluções para suas organizações.

Os líderes que conseguiram transpor os desafios de tanta complexidade e incerteza, tiveram:

• Visão para enxergar oportunidades nos desafios.
• A coragem para agir com convicção quando confrontados com incertezas e riscos.
• Caráter para fazer a coisa certa nos momentos difíceis.
• Resiliência para dar a volta por cima quando as coisas não acontecem como o esperado.

Entenderam também o paradoxo do controle – não controle, que é o de aceitar o fato que o ambiente será cada vez mais VUCA e, ao mesmo tempo, recusar aceitar que os fatores externos ditarão seus resultados. Esses líderes do quarto grupo não cruzaram os braços tentando prever o futuro – eles criaram o futuro!

Devemos aceitar a inevitabilidade da realidade VUCA, mas na confusão mental e fragilidade emocional reinantes, tomar decisões baseadas em:

• Observações diretas;
• Experimentação prática;
• Evidência empírica resultante de um entendimento profundo do seu ambiente operacional e
• Assumir enorme importância para evitarmos decisões impulsivas, influenciadas pelo pânico, medo e ansiedade.

Foque os esforços do time nos elementos mais importantes para o sucesso da empresa durante e após o fim da crise do Coronavírus.

• Quais são nossas prioridades internas agora?
• Quais são nossas prioridades externas?

Foque nos planos de execução, a partir destas prioridades, que criam valor para a empresa (baseie-se nos KPIs de sua organização que devem refletir o processo de criação de valor de sua empresa e pense em novos KPIs que ainda não foram considerados, mas que se fazem necessários na realidade VUCA e a crise pode facilitar a introdução desses KPIs. Exemplos:

I -) custos do desengajamento – alto turnover de pessoas, presenteísmo,

absenteísmo, improdutividade, acidentes de trabalho, qualidade

percebida pelo cliente;

II -) índice de engajamento como métrica de performance de líderes;

III -) confiança que o líder gera na organização.

A visão para enxergar oportunidades nas crises é um grande desafio para a maioria de nós, muito embora, nós brasileiros, tenhamos vantagens comparativas aqui em decorrência de nosso histórico de crises econômicas, sociais e políticas.

Mas o fato é que não temos as respostas nessa ou em nenhuma outra crise de mesma magnitude, até mesmo porque, o comportamento humano é surpreendentemente imprevisível. Temos que ter a coragem para demonstrar nossa essência, admitir nossa humanidade e o fato que não temos todas as respostas.

Incentive a participação de seus líderes e de todos os colaboradores da empresa na busca de soluções criativas, de mudanças e inovações.

Demonstre transparência, admita seus erros, peça desculpas quando pisa na bola, facilita a conquista de confiança de seus colaboradores, elimina o medo de errar e assim se cria um ambiente de segurança psicológica, o alicerce de equipes coesas, inovadoras e vencedoras!

Esteja presente. Comunique, comunique, comunique… Escolha o meio de comunicação que represente o espaço da verdade, da segurança relativa nesse momento. O ponto de encontro virtual onde as pessoas vão para se manterem informadas, para satisfazerem a necessidade de pertencimento e de conexão com as pessoas.

Faça um town hall meeting diário, à distância e, se preciso, duas vezes por dia.

Intensifique sua participação em grupos de líderes, conecte-se com eles, com seus clientes, fornecedores e acionistas.

Desta forma, o exercício quase inócuo de prever o futuro passa a ser uma tarefa de planejamento a partir de inputs de várias fontes, de geração de insights. Além de facilitar o planejamento, mantem sua organização unida em um esforço cooperativo de encontrar soluções criativas, inovadoras e até mesmo disruptivas que as crises geralmente proporcionam.

Adote o mindset de crescimento e de aprendizado continuado.

Engaje toda sua organização para adotar o mindset de iniciativa, criatividade e de paixão pela transformação da empresa. Um mindset de disrupção!

Peça por feedbacks sobre as mudanças necessárias na cultura da empresa, desde o processo de recrutamento e seleção, onboarding, treinamento e desenvolvimento, promoção, reconhecimento, recompensa, sucessão e desligamento. Ou seja, use esse momento para transformar sua empresa em uma organização cada vez mais propositada, mais humana e saudável, de impacto crescentemente mais abrangente na sociedade.

Um líder promove mudanças! O momento é propício para que todos se unam em um esforço cooperativo de mudanças que muitas vezes protelamos porque o dia dia nos consume. Aproveite que o nosso cotidiano já se modificou e exigirá mudanças comportamentais e estratégicas após o COVID-19, para fazê-las!

Use o momento para encontrar os clientes do futuro. Que nichos ainda não explorou?

Amazon, Netflix, Domino’s e outras empresas cresceram durante a recessão de 2008 fazendo investimentos, introduzindo inovações, não abandonando ou reduzindo a qualidade de atendimento ao cliente e optando sempre pela honestidade na comunicação.

Saber como sustentar a saúde física, mental e emocional para lidar com o mundo VUCA não é uma escolha, mas uma necessidade imperativa para quem quer manter-se relevante na realidade do crescimento exponencial da tecnologia.

Sairemos fortalecidos dessa crise e muito provavelmente mais humanos, mais empáticos e socialmente responsáveis; cientes de que somos os agentes de transformação da sociedade brasileira em quem nossos colaboradores buscam respostas, principalmente em momentos excepcionais como esse.

Carlos Aldan de Araujo

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