O primeiro passo é entender que não se trata de “soft skill” e que os profissionais de que geram resultados de negócios integram sentimentos com pensamentos
Inteligência emocional não é o oposto de inteligência, não é a vitória do coração contra o pensamento “racional” – é a extraordinária intersecção de ambos. Não se trata de pensamento versus emoção, mas de unir ambos para colhermos melhores resultados na vida.
Diferentemente de vários modismos que vieram e desapareceram, a inteligência emocional é uma inteligência que envolve a habilidade para monitorar emoções e sentimentos de si próprio e dos outros e a sabedoria para usar essa informação para orientar os pensamentos e ações. Na medida em que o contexto de negócios se torna cada vez mais complexo e disruptivo – com a necessidade de conviver com eventos inesperados, muitas vezes dramáticos, como a pandemia da COVID-19 –, o desenvolvimento da inteligência emocional torna-se ainda mais importante.
Ela ajuda as pessoas a se conectar e a comunicar com eficácia, a refletir sobre as conseqüências de seus atos, tomar decisões, gerenciar conflitos e estresse. É a competência que habilita os líderes na criação de um ambiente de trabalho que leva à automotivação, ao pertencimento, à confiança, ao engajamento, à influência e a responder com respeito, cuidado e sensibilidade mesmo quando desafiados.
Os profissionais que criam e sustentam resultados de negócios substantivos neste ambiente complexo e disruptivo engajam corações e mentes, integram sentimentos com pensamentos para navegar com sucesso tanto no meio profissional como pessoal.
O pensamento racional é altamente eficaz para notar detalhes e para resolver problemas de fatores conhecidos, mas é pobre para lidar com fatores desconhecidos. Por esta razão, a inteligência emocional tem sido aclamada como imprescindível, estratégica e crítica para promover alto desempenho e, ao mesmo tempo, saúde mental e física, bem-estar e prosperidade num ambiente crescentemente volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Impacto comprovado
Pesquisas validadas cientificamente nas duas últimas décadas têm demonstrado o impacto nos negócios do desenvolvimento e recrutamento da inteligência emocional na liderança, no desempenho individual, no engajamento das pessoas, no clima organizacional, no teamwork e na venda e fidelização de clientes.
Inúmeras pesquisas recentes (António Damásio, Daniel Siegel, Daniel Goleman, Boyatzis, Kronberg – são 12 anos de coleta de estatísticas dos resultados de assessments de IE de executivos no Brasil), demonstram que essa competência é o principal fator de sucesso na vida e do bom desempenho no trabalho. Ela explica 58% do sucesso em todos os tipos de atividade profissional. Essas pesquisas também demonstram que 90% dos profissionais com melhor desempenho possuem essa capacidade mais desenvolvida. De outro lado, somente 20% dos profissionais com pior desempenho possuem inteligência emocional mais desenvolvida.
Por mais brilhante que seja a estratégia de uma organização, sua execução eficaz depende fundamentalmente das competências emocionais dos colaboradores: engajamento (um desejo emocional que, infelizmente, é tratado, na maioria das empresas, de forma exclusivamente cognitiva e material), confiança, motivação, cooperação, execução ágil, disciplina, foco, adaptabilidade à mudança. O alto índice de desengajamento no ambiente de trabalho – entre 70% e 80% no Brasil e no mundo todo – representa a evidência que não basta comunicar uma estratégia, metas e planos de ação e esperar que o comportamento das pessoas siga os comandos do chefe. Definitivamente não é assim que funciona.
Apesar dessas evidências objetivas, ainda é comum ouvirmos que as emoções destroem a lógica, que “homem que é homem não chora!”, “seja objetivo, deixe as emoções de lado”; a inteligência emocional é “intangível”, é “soft skill”. A neurociência demonstra, no entanto, que as emoções são fundamentais nas decisões e podem organizar ou desorganizar nossos processos mentais e comportamentos decorrentes.
Pesquisas da neurociência dos últimos 30 anos demonstram que não conseguimos tomar decisões sem nossas emoções. Estudos de imagem e lesões de cérebro demonstram, por exemplo, que, quando determinados circuitos neurais em regiões onde se observa a manifestação de emoções são danificados, a pessoa deixa de conviver normalmente em sociedade por mais que a região do córtex pré-frontal – a chamada inteligência cognitiva – tenha sido inteiramente preservada. Como disse anteriormente, as emoções podem organizar ou desorganizar nossos processos mentais e comportamentos.
Relevância das emoções
Portanto, não darmos atenção aos elementos organizadores ou desorganizadores de nossa forma de pensar e agir nos parece pouco inteligente. E aquela pessoa que diz ser totalmente racional, objetiva, pragmática, “emoções ficam fora da soleira da porta”, desconhece os recentes achados da neurociência.
Mesmo se não recorrêssemos às pesquisas validadas cientificamente, poderíamos reconhecer a relevância das emoções em nossa existência simplesmente observando como nossas emoções influenciam praticamente tudo em nossas vidas.
Desde as pessoas que gostamos ou não gostamos, com quem nos casamos, quem deixamos, onde moramos, a carreira escolhida, os filmes, músicas e obras de arte. Casamento, casa e carreira são fatores bastante tangíveis, nada “soft”, e determinantes de nosso bem-estar e prosperidade.
O desenvolvimento ou fortalecimento da IE é indispensável para preservarmos nossa relevância profissional na atual realidade complexa e disruptiva de negócios e prosperarmos na vida, com resiliência emocional, para suportarmos as inevitáveis trepidações e turbulências da era do inesperado que este início do século XXI tem nos apresentado.
Por Carlos Aldan, CEO do Grupo Kornberg, para o portal administradores.com.br
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