Em um período sem precedentes como este, nada mais justo e sensato do que ouvir o que nos diz a biologia. “Quando estamos diante de uma ameaça à vida, ativamos o mecanismo de luta ou fuga”, resume o psicólogo Felipe Ornell, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Esse mecanismo, herdado dos nossos mais remotos antepassados, se traduz hoje numa palavra corriqueira: estresse. Há milhares de anos, o homem das cavernas que andava pelas savanas e encontrava uma fera no caminho tinha que se decidir entre partir para cima ou sair correndo. Estresse na veia.

E é essa reação que deixa o organismo preparado para agir. O cérebro lança um comando para uma glândula que começa a produzir cortisol, o famoso hormônio do estresse. Isso, por sua vez, faz o coração disparar, com o objetivo de levar mais sangue para os músculos trabalharem. A respiração se acelera na tentativa de captar mais oxigênio. Estoques de energia são liberados para servir de combustível. Graças a esse sistema veloz e afinado, nossa espécie sobreviveu às adversidades.

O problema é que o inimigo de 2020 não tem rosto, nem dá pra fugir dele: como pode estar em qualquer lugar, representa um perigo permanente, o que dispara o gatilho da tensão a todo instante. “Em paralelo ao coronavírus, vemos surgir uma pandemia de medo e estresse”, interpreta Ornell. Eis o começo de uma dura jornada mental, que pode desembocar em ansiedade, depressão…

Apesar dos constantes avisos de cientistas de que uma pandemia estava por vir, a verdade é que o mundo inteiro foi surpreendido pelo coronavírus: no comecinho de 2020, nenhum presidente, senador ou deputado imaginava que estávamos à beira do caos. E esse despreparo, de certa maneira, contribuiu para bagunçar ainda mais o coreto.

Afinal, lidamos com uma doença em que não há perspectiva de vacinas ou remédios com capacidade de cura para os próximos meses. A única medida que resta para conter o avanço e diminuir o impacto nos sistemas de saúde é o isolamento social: com menos gente circulando pelas ruas, a taxa de transmissão do vírus cai, o que permite aos hospitais absorverem a demanda de novos pacientes.

Que fique claro: permanecer trancado em casa é vital para lidar com a pandemia no atual estágio e todos devemos ter responsabilidade e obedecer às orientações das autoridades em saúde pública. Mas isso não quer dizer que essa estratégia seja isenta de efeitos colaterais: não sair às ruas pesa na cabeça. “Pra começo de conversa, nos tornamos saudosistas das pequenas experiências da vida, como admirar aquela árvore bonita que acaba de florescer”, exemplifica a psicóloga Beatriz Borges Brambilla, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

E essa é apenas a ponta do iceberg: um estudo da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, estima que a falta de contatos sociais traz riscos à saúde comparáveis a fumar 15 cigarros por dia e chega a ser duas vezes mais danosa que a obesidade. Para piorar, nas raras vezes em que nos aventuramos no mundo exterior nas visitas ao mercado ou à farmácia, somos confrontados com rostos cobertos por máscaras, que nos impedem de interpretar as emoções dos interlocutores. Não há dúvida de que, como seres sociais, necessitamos da troca de experiências, do diálogo e da convivência em comunidade para sermos felizes.

Enquanto isso não é 100% possível, resta então manter a conversa com as devidas adaptações. É hora de usar e abusar dos aplicativos de videochamada, como o Skype, o WhatsApp, o Zoom e o Google Hangouts. Claro que não é a mesma coisa que encontrar os amigos num bar ou bater papo com a família no almoço de domingo, mas essas interações a distância ao menos ajudam a preencher um pouco do vazio e da saudade que sentimos de estar com aqueles que amamos.

Quem lê tanta notícia?
Outro ingrediente que ajuda a compreender esse quadro inédito é a quantidade de informações que recebemos nos dias de hoje. Os números são assustadores: de acordo com o site Internet Live Stats, a cada segundo o mundo produz e compartilha na web 2,9 milhões de e-mails, 8 947 posts no Twitter, 987 fotos no Instagram, 4 602 chamadas no Skype e 82 386 pesquisas no Google. Sim, você leu certo: isso tudo aparece nos computadores e nos smartphones em um mísero segundo!

Para lidar com esse dilema, os especialistas sugerem adotar uma espécie de dieta de notícias. “Não fique constantemente com a televisão ligada ou com as redes sociais abertas. Defina períodos específicos de seu dia para se atualizar sobre os fatos”, indica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma-BR).

O impacto do coronavírus no bolso
Um terceiro aspecto que tira o sono de qualquer um é a perspectiva de uma recessão global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o mundo entrará na maior crise desde 1929, ano em que ocorreu a quebra da bolsa de valores de Nova York, nos Estados Unidos.

O enfermeiro Carlos Sequeira, professor da Escola Superior de Enfermagem do Porto, em Portugal, estudou a fundo como o colapso econômico que acometeu a Europa a partir de 2008 afetou a saúde mental da população. “Nesse período, houve um aumento significativo das taxas de suicídio no continente”, relata.

Do ponto de vista individual, será preciso se reinventar e adequar as expectativas para garantir um equilíbrio tanto das contas quanto da mente.

 

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Texto por: André Biernath
Adaptado pelo time Kronberg

Fonte: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/a-epidemia-oculta-saude-mental-na-era-da-covid-19/

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