Autor: Carlos Aldan (CEO Grupo Kronberg)
A Kronberg dá a seguinte definição para a inteligência emocional: a inteligência emocional não é o oposto de inteligência, não é a vitória do coração contra o pensamento “racional” – é a extraordinária intersecção de ambos. Não se trata de pensamento versus emoção, mas de unir ambos para colhermos melhores resultados na vida.
Diferentemente de vários outros modismos que vieram e desapareceram, a inteligência emocional é uma inteligência que envolve a habilidade para monitorar tanto as próprias emoções e sentimentos, como as emoções e sentimentos de outras pessoas, e para usar esta informação para orientar os pensamentos e ações. Na medida que o contexto de negócios se torna cada vez mais complexo e disruptivo, e que temos que conviver com eventos inesperados, muitas vezes dramáticos como a pandemia da COVID-19, o desenvolvimento da inteligência emocional adquire cada vez maior importância.
A IE ajuda as pessoas a se conectarem e comunicarem com eficácia, a refletir sobre as consequências de seus atos, tomar decisões, gerenciar conflitos e estresse. É a competência habilitadora para líderes criarem um ambiente de trabalho conducente à automotivação, ao pertencimento, confiança, engajamento, influência e a responder com respeito, cuidado e sensibilidade mesmo quando desafiados.
Os profissionais que criam e sustentam resultados de negócios substantivos neste ambiente complexo e disruptivo, engajam corações e mentes, integram sentimentos com pensamentos para navegar com sucesso tanto no meio profissional como pessoal.
O pensamento racional é altamente eficaz para notar detalhes e para sequenciar e resolver problemas de fatores conhecidos, mas é pobre para lidar com fatores desconhecidos. Por esta razão, a inteligência emocional tem sido aclamada como imprescindível, estratégica e crítica para promover alto desempenho e ao mesmo tempo saúde mental e física, bem-estar e prosperidade neste ambiente crescentemente volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Pesquisas validadas cientificamente nestas duas últimas décadas têm demonstrado o impacto nos negócios do desenvolvimento e recrutamento da IE na liderança, no desempenho individual, no engajamento das pessoas, no clima organizacional, no teamwork e na venda e fidelização de clientes.
Inúmeras pesquisas recentes (António Damásio, Daniel Siegel, Daniel Goleman, Boyatzis, Kronberg – 12 anos de coleta de estatísticas dos resultados de assessments de IE de executivos no Brasil), demonstram que a inteligência emocional é o principal preditor de sucesso na vida e de desempenho no trabalho. A inteligência emocional explica 58% do sucesso em todos os tipos de trabalho. Estas pesquisas também demonstram que 90% dos profissionais com maior desempenho possuem inteligência emocional mais desenvolvida. De outro lado, somente 20% dos profissionais com pior desempenho possuem inteligência emocional mais desenvolvida.
Por mais brilhantemente que a estratégia de uma organização ou indivíduo seja concebida, sua execução eficaz depende fundamentalmente das competências emocionais dos colaboradores e do indivíduo: engajamento (um desejo emocional que, infelizmente, é tratado, na maioria das organizações, de forma exclusivamente cognitiva e material), confiança, motivação, cooperação, execução ágil, disciplina, foco, adaptabilidade à mudança. O alto índice de desengajamento no ambiente de trabalho, 70% a 80%. no Brasil e no mundo todo, representa a evidência que não basta comunicar uma estratégia, metas e planos de ação e esperar que o comportamento das pessoas siga os comandos do chefe. Definitivamente, não está acontecendo!
Apesar dessas evidência objetivas, ainda é comum ouvirmos que as emoções destrõem a lógica, que, “homem que é homem não chora!”, “seja objetivo, deixe as emoções de lado”; a inteligência emocional é “intangível”, é “soft skill”, as evidências da neurociência demonstram que as emoções são fundamentais nas decisões. As emoções podem organizar ou desorganizar nossos processos mentais e comportamentos decorrentes.
Pesquisas da neurociência dos últimos 30 anos demonstram que não conseguimos tomar decisões sem nossas emoções (estudos de imagem e lesões de cérebro demonstram que quando determinados circuitos neurais em regiões onde se observa a manifestação de emoções são danificados, a pessoa deixa de conviver normalmente em sociedade por mais que a região do córtex pré-frontal – a chamada inteligência cognitiva – tenha sido inteiramente preservada). Como disse acima, as emoções podem organizar ou desorganizar nossos processos mentais e comportamentos.
Portanto, não darmos atenção aos elementos organizadores ou desorganizadores de nossa forma de pensar e agir nos parece pouco inteligente. E aquela pessoa que diz ser totalmente racional, objetivo, pragmático, “emoções ficam fora da soleira da porta”, desconhece os recentes achados da neurociência.
Mesmo se não recorressemos às pesquisas validadas cientificamente, podemos reconhecer a relevância das emoções em nossa existência, simplesmente observando como nossas emoções influenciam praticamente tudo em nossas vidas. Desde as pessoas que gostamos ou não gostamos, com quem nos casamos, quem deixamos, onde moramos, a carreira que escolhemos, os filmes, músicas e obras de arte. Casamento, casa, carreira, são fatores bastante tangíveis, nada “soft”, e determinantes de nosso bem-estar e prosperidade.
O desenvolvimento ou fortalecimento da IE é indispensável para mantermos nossa relevância profissional na atual realidade complexa e disruptiva de negócios e prosperarmos na vida, com resiliência emocional, para suportarmos as inevitáveis trepidações e turbulências da era do inesperado que este início do século XXI tem nos apresentado.
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